Benedita adorava novelas e filmes da TV.
Ela assistia às novelas de todos os canais e, ria, chorava, se emocionava, ficava
com raiva dos personagens, mas, principalmente copiava todos os modelos de
roupas das atrizes na sua velha máquina de costurar.
Também fazia todas as receitas culinárias que ensinavam na TV, porque tinha
medo que seu filho nascesse aguado. Isso mesmo, Benedita estava grávida e sabia que era um menino. Ele se chamaria “Bryan O’ Neil da Silva”.
Lógico, ele teria nome de ator americano, e seria um famoso doutor, dizia ela.
Os dias foram se passando, Dita engordando e Bryan crescendo na sua barriga. Ela era uma mulher negra, viúva, muito alegre, de sorriso fácil e uma excelente costureira. Um filho doutor que iria ser o que ela não foi, ter o que ela não teve e fazer o que ela não fez. Seus sonhos se realizariam naquele menino. Nasce então Bryan com quase 5 quilos, e todos no hospital vieram vê-lo.
- Puxa Bryan já nasceu famoso, pois todos queriam conhece-lo já que passou até no Jornal Nacional. O noticiário dizia:
- “Bebê nasce com cinco quilos no estado de São Paulo”.
E como era lindo, e forte, e saudável. Benedita não se cabia de tão contente.
Logo que se recuperou foi para a máquina de costura fazer as roupas de Bryan, todas de tecido engomado. Bryan foi crescendo e seu cabelo sua mãe já alisando.
A costureira com o fruto do seu trabalho pagava sozinha a escola de seu filho e nada faltava para aquele menino, tudo o que ele queria ela comprava e cada vez ele pedia mais coisas.
Mas com o tempo Bryan não se contentava mais com nada, ele foi ficando insaciável, tudo o que era novo logo perdia a graça assim que adquiria Além disso, quando chegou à adolescência então ele passou a não gostar de si próprio, olhava no espelho e encontrava mil defeitos, vivia emburrado. Dita não sabia mais o que fazer para satisfazer seu filho.
Agora então, ele passou a ter vergonha de sua mãe que não podia mais nem
leva-lo até o portão da escola, tinha que deixa-lo na esquina, para que ninguém
a visse. A mãe tudo compreendia quieta. Beijinhos? Nem pensar, Bryan já se sentia muito adulto. Benedita chorava, mas sempre perdoava seu filho.
Ela não notava que Bryan estava mudando de comportamento, achava que era da idade, igual como dizia na televisão, fases da adolescência.
Mas, não era só isso, o menino chegava em casa nervoso, se trancava no quarto, se alimentava mal e evitava conversar com sua mãe.
Ele vivia repetindo ao telefone uma frase, parecia um grito de guerra:
- “Conosco Ninguém Podosco!”
Benedita, então resolveu ir à escola conversar com a professora para saber o que estava acontecendo.Ficou então sabendo que havia na escola uma turma que se intitulava: “Conosco Ninguém Podosco”, uma turma fechada. Era muito difícil fazer parte desta turma. Os candidatos precisavam passar por uma espécie de rito de passagem com várias exigências. Bryan teve que cumprir as seguintes para começar:
1- Beijar a menina mais bonita da classe;
2- Ficar à disposição da turma durante um mês.
A cada prova os amigos se divertiam muito. Bryan fazia tudo para agradar a turma, mas seus amigos eram implacáveis e todo serviço "sujo" era ele quem fazia. Além disso, para entrar nesta turma não podia ser careta. Bryan então vivia estressado. Satisfazer os desejos da turma para ser aceito no grupo, isso dava muito trabalho, mas ele se esforçava. Entrar para aquela turma virou uma obsessão, mas ele finalmente conseguiu. Já dentro da turma ele não se sentia muito a vontade, fazia só o que os colegas queriam, suas idéias não eram aceitas, mas também Bryan não tinha convicção daquilo que dizia, sua personalidade não estava formada e ainda suas roupas feitas por sua mãe e sua timidez com as meninas eram sempre motivo de riso entre os colegas. Benedita quis tirar satisfação com os meninos, mais Bryan ameaçou fugir, caso a mãe se envolvesse no assunto.
- É coisa de homem! Dizia ele.
Mas, nas aulas ele sempre levava quieto a culpa por todos. E Benedita além de não repreender o filho, ainda vivia encobrindo seus erros. Afinal, Bryan tinha tudo o que queria, tinha um lar, estudava numa das melhores escolas da cidade. Qual era o problema?
Mas o menino foi ficando cada vez mais revoltado, agora apresentava problemas de estômago e enurese. E assim, finalmente, se decepcionou com a turma. O mundo acabou para ele. Um dia ao invés de ir a escola sentou-se em um banco da praça e vendo-se sozinho, chorou, chorou e chorou.
Ao seu lado sentou-se um homem desconhecido que logo puxou assunto. Bryan abriu-se. Disse de toda a sua insatisfação, revolta, frustrações, etc. Logo o homem ofereceu ajuda.
- Sua vida vai mudar a partir de hoje! Disse ao menino e continuou:
- Sua mãe te dá de tudo, não é? Mas o principal não te dá, é dinheiro para você se tornar independente, fazer o que quiser, se mostrar perante a turma!
- E o eu preciso fazer? Perguntou o menino.
- Olha, vamos fazer uma experiência para ver se você se sai bem, para começar entregue este pacote no endereço aqui indicado e quando você voltar eu te dou 10 pilas O.K.?
O menino aceitou de pronto, pensou tratar-se de uma boa oportunidade e sem os conselhos de ninguém começou a fazer tudo o que aquele homem pedia. Ele confiou naquele homem que lhe mostrou um caminho, e que aparentemente lhe daria segurança financeira. Então o menino começou a “trabalhar” para aquele desconhecido. Bryan, agora começou a chegar em casa com roupas de marca, sorriso de canto.
- Meu filho, você agora não pára mais em casa? Perguntou Dita.
- Mãe tô trabalhando!
A mãe então orgulhosa abraçou o filho e depois contou para todas as suas clientes que ele daquela idade já era responsável e o apoiou em tudo, e até permitiu posteriormente suas saídas à noite. Ela nada desconfiou, não procurou saber com quem seu filho estava andando, só pedia para ele abaixar um pouco o som do CD Player quando chegavam
clientes para experimentar roupas. Benedita foi perdendo o contato com seu filho. Até que aquele homem atentou contra o pudor de seu filho. Agora sim Bryan jamais se recuperou. Os comentários chegaram a ponto em que Bryan teve que abandonar a escola. E, finalmente, saiu no Jornal como sonhava sua mãe, mas só que ele saiu foi na última página. Quando Benedita caiu em si já era tarde. Afinal aonde foi que eu errei? Perguntava-se a toda hora.
- Eu o coloquei na melhor escola, dei a ele tudo o que pedia, o apoiei em tudo nada lhe faltava.
Mas, Bryan na verdade deveria ter se chamado João como seu pai, ter sido marceneiro como seu avô, honesto como sua mãe, e deveria ter tido a personalidade que nunca teve.
Benedita arrependida resolveu ajudar a outras mães para que não passassem pelo mesmo problema que enfrentou, então formou um grupo que saía pelas ruas alertando mães com os seguintes conselhos:
1- Os filhos não devem ficar sozinhos em casa na companhia de pessoas estranhas, ou mesmo com conhecidos que insistam em ficar com a criança em casa enquanto os pais precisam sair;
2- A maior incidência de casos de abusos com crianças ocorrem com pessoas das quais você jamais desconfiaria, ou seja o pai, o tio, o velho amigo, o vizinho, etc.;
3- Os suspeitos começam comprando presentes, inventam passeios só para ficarem à sós com as crianças;
4- Caso tenha certeza que seu filho tenha sofrido algum tipo de atentado não tenha medo de denunciar o acusado, mesmo e principalmente se for o seu marido;
5- Se desconfiar de algo pergunte a criança se alguém a tocou de forma indevida em certas partes do corpo;
6- É preciso dar certa liberdade aos filhos para que eles não tenham inibição de dizerem certas coisas;
7- É preciso manter o costume de sempre dialogar com seus filhos, observando sempre suas reações, se estiverem com algum comportamento estranho, desconfiem; o corpo dá sinais de problemas emocionais em crianças e adolescentes, exemplo: gastrite, obesidade mórbida e enorese;
8- Se uma criança tem medo de contar algo, pode ter sido ameaçada;
9- É preciso acreditar na criança se ela relatar detalhes sobre o abuso normalmente as crianças não tem razão ou informação suficiente para inventar histórias de abuso;
10- As filhas devem ser orientadas no sentido de que não fiquem muito vontade nos trajes e modos em casa na presença de pessoas estranhas, pois existem mentes deturpadas e doentes; na rua também roupas de crianças e adolescentes não devem ser escandalosas;
11 - Os filhos devem ser esclarecidos sobre tudo, para que não sejam informados fora de casa e de uma forma deturpada.
12 - A criança observa o comportamento do adulto, cuidado com o que se faz e com o que se fala na frente da criança, também evitem fumar, beber, deixar remédios e bebidas ao alcance delas; atenção com a programação que estão vendo na TV.
13- É preciso conhecer todos os amigos de filhos, saibam aonde estão, se ele costumam ir a um lugar com freqüência procure saber onde é e o que fazem lá;
14- Pais que não podem ficar em casa com as crianças, é melhor que elas fiquem em uma creche ou escolinha confiável;
13- Criança é agitada, alegre criativa, se ela não está assim está doente ou com algum problema;
14- Problemas não devem ser compartilhados com as crianças, elas não tem estrutura para suportar problemas de adultos, nem gritarias, palavrões violência, brigas, surras e assuntos impróprio para menores;
15- Os filhos precisam de atenção e carinho, brinquedos e roupas não substituem seu amor aliás muitos presentes fora de hora formam futuros adultos insatisfeitos;
16- Se os filhos não receberem amor dos pais e neles confiar, irão transferir esse amor e confiança a outra pessoa;
17- As crianças devem ser respeitadas, elas não tem defesas e precisam manter sua integridade física e moral, e precisam de todos os cuidados tendo em vista sua fraqueza e ingenuidade;
18- Crianças não devem ir sozinhas à escola, ou padaria, casa de amigos, etc, mesmo se for bem perto de casa, muitas dela desaparecem nesse trajeto;
19- Casal na intimidade de seu quarto deve se certificar se a porta está trancada;
20- É preciso dar principalmente uma religiosidade aos filhos.
21- Criança muito tempo quietinha é sinal de alerta mas se ela não estiver fazendo nada perigoso é preciso deixa-la brincar, mesmo se estiver se sujando ou bagunçando;
22- As crianças precisam receber explicações claras dos motivos pelos quais estão sendo repreendidas;
23- Dar tudo o que a criança quer é uma grande armadilha, assim ele não aprende que o mundo tem limites e que seus atos tem conseqüências. O adolescente que tem tudo o que quer torna-se insaciável e tudo o que é novo perde a graça assim que se adquire. Essa busca pelo prazer pode alterar o estado de consciência abrindo portas para o consumo de drogas que atraem justamente por prometer prazeres instantâneos. Diante do primeiro não ele pode ter reações destrutivas, querer fugir de casa, eliminar quem lhe impôs a negação e cometer até um assassinato.
Depois de alertar as mães Benedita encerrava dizendo assim:
- Meus amigos, prestaremos contas à Deus por todo ato ou omissão que façamos com relação a todas as crianças, e principalmente às que estão sob nossos cuidados;
Se Deus não confiasse em nos não teria nos dado a guarda um inocente.
Façamos jus a esta confiança!
Não se aprende na escola como os pais devem educar os filhos, por isso devemos nos reforçar nos cuidados.
(Alguns conselhos foram tirados da entrevista da psicóloga Esly carvalho, psicóloga e supervisora de psicodrama pela Febrap dos EUA, matéria de Virgínia Rodrigues no jornal palavra “8b especial de set/ 2000)
Iride Eid Rossini
Direitos autorais reservados