Total de visualizações de página

25 de mar. de 2011

Cadê o Chiquinho?

Naquela manhã ela abriu a janela e o sol invadiu a casa.  As plantas enfeitavam a linda paisagem e os passarinhos beijavam as flores.
Ela ficou ali parada contemplando aquela vista maravilhosa e nem percebeu que alguém batia insistentemente a porta.
- Dona Zéfa!!!!!!!!!    Dona Zéfa!!!!!!!!
- Já vai Tonho, o que o cê quer?
- É o Chiquinho, sô, ele foi até a padaria comprar pão e até agora não voltou.
- Quê isso Seu Tonho, calma, vai ver ele já tá voltando, quanto tempo faz isso?
- Faz 5 hora!  O pão era pro o café da manhã e não pro almoço.
- Vamos até a polícia Seu Tonho.
- Eu já fui, eles mandaram esperar 72 horas, mas até lá muita coisa pode acontecer sô!
- Vamos nóis atrás dele, disse Dona Zéfa e imediatamente fechou a porta do barraco, passou a corrente, fechou o cadeado e saiu apressada com ele.
- Com que roupa ele tava Seu Tonho?  Perguntou a Zéfa
- Tava com o shorts listado que ele ganhou na Igreja e de sandália de dedo.
Os dois perguntaram para todo mundo, ninguém viu o menino.
- O cê sabe os endereço dos amigos dele? Disse a Zéfa
- Moram tudo na favela, ele num tá na casa de ninguém, disse o Tonho.
- Bem nos resta agora esperar.    Vamos rezar. É, a gente vê tanto caso de criança sumida na televisão e não tomamos conta das nossas crianças, não é só na casa dos outros que acontece as coisas.
E continuou Dona Zéfa:
- As mães mandam as crianças sozinhas pra padaria, pra Escola, pro açougue  e elas não voltam mais.
- Num fala isso que eu já tô nervoso que só vendo.
- Calma cumpadre.
- Mas eu juro que quando o Chiquinho voltar eu não vou pegar ele de cinta!
- Têm que conversar com as crianças, não pode batê Seu Tonho!
- É, assim que ele voltar eu vou lhe dizer que vou comprar aquele presente de natal. Eu faço um sacrifício, deixo de beber e junto o dinheiro.
- Ele também precisa do seu amor Seu Tonho!!
- É amor e uma bicicleta Zéfa, ele não se conforma com a vida que levamos. Sabe Zéfa, acho que também vou deixar ter um cachorro.
Mas as horas iam passando e as esperanças também.
- Se ele voltar vou reservar umas horas do dia para brincar com ele, eu nunca arrumava tempo.
- Claro cumpadre.
E as lágrimas foram caindo devagar.
- E agora comadre, o que eu vou fazer sem meu filho?
- Tenha fé em Deus Seu Tonho, ele vai voltar, vamos rezar um pai-nosso.
- Nem isso eu ensinei para meu filho, ele nunca foi numa Igreja, a não ser para pegar roupas e alimento.
- Mas sempre há tempo!!!!!   Vamos ter calma.
Os dois caíram em prantos até que Zéfa teve uma ideia:
- Cumpadre, será que o menino não fugiu?   Vamos até o seu armário ver se levou as roupas.
Mas quando Seu Tonho abre o armário encontra seu filho escondido lá dentro.
O sangue subiu-lhe à cabeça, Seu Tonho fez menção de tirar a cinta, mas antes perguntou:
- Meu filho, porque você fez isso?
- Pai, eu saí para ir à padaria, e na volta eu encontrei um cãozinho muito magrinho na rua, ele estava com muita fome, e eu dei uma pedaço do pão para ele comer, mas ele pedia mais e mais, depois ele veio me seguindo até aqui daí fiquei com medo da surra e me escondi.
O pai então abraçou o filho e disse:
- De amanhã em diante vamos ter uma nova vida, nós três, eu você e o seu cãozinho.
E os dois abraçados foram a té lá fora buscar o cão que estava bem na porta esperando.
Iride Eid Rossini
Direitos autorais reservados

Nenhum comentário:

Postar um comentário